Uma semana sóbrio vale R$ 100: Califórnia vai pagar usuários que deixarem drogas

O Estado da Califórnia iniciou recentemente um projeto-piloto que tenta combater a epidemia de overdoses que devasta os Estados Unidos e deixa mais de 100 mil mortos por ano: pagando usuários para que deixem de usar drogas.

 

Das mais de 110 mil mortes por overdose registradas no país no ano passado, o CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças, agência de pesquisa em saúde pública ligada ao Departamento de Saúde) estima que cerca 75 mil envolveram o opioide sintético fentanil.

 

As mortes provocadas por drogas estimulantes, principalmente metanfetamina e cocaína, também vêm crescendo vertiginosamente no país.

Diferentemente do fentanil e outros opioides, para os quais existe a possibilidade de tratamento com metadona, buprenorfina ou naltrexona, não há nenhum medicamento aprovado pela FDA (Food and Drug Administration, agência do governo responsável pelo controle de medicamentos) para tratar da dependência de estimulantes.

Essa abordagem, conhecida como manejo de contingência, é considerada por muitos especialistas e agências de saúde a mais eficaz entre os tratamentos atualmente disponíveis para a dependência de estimulantes. A estratégia já é usada há anos em alguns estudos, em projetos com financiamento privado e também pelo Departamento de Assuntos de Veteranos dos EUA, responsável por serviços de saúde para os veteranos de guerra americanos.

No entanto, até recentemente, não havia a possibilidade de o Medicaid, o programa de saúde social para pessoas de baixa renda nos Estados Unidos, financiar esse tipo de projeto, o que limitava o seu alcance. Agora, as regras foram modificadas para permitir que o Medicaid cubra iniciativas de manejo de contingência no combate ao abuso de drogas, e a Califórnia é o primeiro Estado onde a estratégia está sendo implementada.

O projeto, chamado de Recovery Incentives Program (Programa de Incentivos à Recuperação, em tradução livre), está sendo adotado inicialmente em clínicas de 24 dos 58 condados da Califórnia.

Durante 24 semanas, os participantes são submetidos regularmente a testes de urina. Cada vez que o teste vem negativo para a presença de estimulantes, recebem como recompensa um incentivo financeiro, na forma de um vale-presente para ser usado em supermercados ou lojas.

O primeiro vale-presente é de 10 dólares (cerca de R$ 50), e o valor vai aumentando à medida que o paciente progride. Como nos primeiros três meses o paciente precisa ir ao menos duas vezes na semana para fazer o teste, na primeira semana, cumprido todos os requisitos, ele ganhará pelo menos 20 dólares (cerca de R$ 100).

Um participante que consiga chegar ao fim das 24 semanas sem nenhum teste positivo poderá receber um valor total máximo de 599 dólares (cerca de R$ 2.480), que é o limite para que o prêmio não seja considerado renda pela receita americana. Ao fim desse período, os pacientes não receberão mais vales-presente, mas continuarão a ser acompanhados e ter acesso a terapia, aconselhamento, serviços comunitários e de prevenção de recaídas por pelo menos mais seis meses.

Enquanto nos três meses iniciais do tratamento, os participantes devem comparecer no mínimo duas vezes por semana à clínica para serem testados, após esse período a exigência é de uma vez por semana. Os que testarem positivo para a presença de drogas, não receberão vale-presente naquela ocasião, mas poderão continuar no programa e tentar novamente no teste seguinte.

“O projeto está aberto para outros Estados, mas a Califórnia foi o primeiro a participar, então há muito interesse em sobre como será a implementação aqui”, diz à BBC News Brasil o médico Brad Shapiro, diretor do Programa Ambulatorial de Tratamento de Opiáceos do Hospital Geral de São Francisco, uma das instituições participantes do projeto-piloto.

O médico ressalta que o projeto na Califórnia, além de ser o primeiro financiado pelo Medicaid, segue um formato rigoroso, “que se aproxima dos formatos de pesquisa que têm demonstrado muito sucesso”.

“Isso tudo é bastante novo e empolgante”, afirma Shapiro, que também é professor da Universidade da Califórnia em San Francisco (UCSF).

Fonte: g1
Imagem: Freepik

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