Por que muitos preferem filmar em vez de ajudar, em casos de desastres, ou se arriscar em situações de perigo?

A Polícia Civil suspeita que o comerciante Renato Bortolucci, que morreu na ação da quadrilha que assaltou agências bancárias de Araçatuba, no interior de São Paulo, filmava e gravava áudios durante o crime. O caso ainda está em investigação, mas um vídeo divulgado nas redes sociais mostra o comerciante atrás de um carro, escondido, enquanto é possível escutar diversos barulhos de tiros. Há ainda alguns áudios, e em um deles o comerciante aparece dizendo: “Nossa. Acho que fui atingido, ó, mano. Nossa Senhora. Meu Deus. Ai”.

 

A situação suscita um debate: por que muitos preferem filmar em casos que envolvem desastres ou mesmo em situação de perigo? Em reportagem publicada pelo site Gazeta Online, anos atrás, ao comentar um episódio que envolvia essa mesma situação (de pessoas filmando tragédias e/ou se arriscando), a psicóloga Adriana Müller considerou que precisamos refletir sobre por que as pessoas querem fazer sucesso na internet mostrando desgraças. Ela complementou que pesquisas mostram que sentimos satisfação quando temos repercussão em cima de materiais que causam grande repercussão.

 

“Um circuito cerebral é ativado e faz a gente se sentir bem, incluída, reconhecida”, cita. O importante, diz Adriana, é perceber que nosso comportamento está sendo definido em função da curtida dos outros, e não em função do que devemos considerar importante a ser feito. “É a cultura da vaidade, em que se volta mais para o espetáculo do que para um comportamento ético”. Por isso, é preciso que haja uma reflexão sobre como usamos as redes sociais. “Precisamos de um critério na hora das postagens, no que a gente compartilha e no que estamos curtindo. Que esse episódio nos leve a pensar em que tipo de sociedade queremos viver e o que estamos fazendo por essa sociedade que queremos”, destacou a psicóloga.

 

Um fato que gerou bastante repercussão foi o acidente que matou ontem o jornalista Ricardo Boechat e o piloto Ronaldo Quattrucci em 2019. Segundos após o acidente, uma mulher tentou salvar as vítimas. Com um capacete na mão e muita coragem, ela tentou abrir a porta do caminhão que colidiu com o helicóptero. Ao seu lado, vários homens apenas filmavam a cena.

 

*com informações Gazeta Online e Universa UOL

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