
Pesquisadores do Cemafauna/Univasf registram pela primeira vez peixe da Caatinga no submédio São Francisco
Uma descoberta importante para a ciência brasileira e, especialmente, para o conhecimento da fauna da Caatinga, acaba de ser publicada no periódico científico Acta Limnologica Brasiliensia, voltado à limnologia e ao estudo de ecossistemas aquáticos continentais da América do Sul.
O artigo, intitulado “First record of Melanorivulus decoratus (Costa, 1989) (Cyprinodontiformes: Rivulidae) in the lower‑middle São Francisco River, Brazil”, apresenta o primeiro registro da ocorrência do peixe Melanorivulus decoratus no trecho submédio do Rio São Francisco, em Pernambuco.
O estudo documenta a presença de dois exemplares da espécie no município de Cabrobó (PE), a uma distância de cerca de 450 quilômetros do local mais próximo onde ela havia sido registrada anteriormente, no médio São Francisco, na Bahia. O achado foi feito em janeiro de 2018, e os exemplares, medindo 10 e 14 milímetros, foram devidamente preservados e catalogados no acervo do Museu de Fauna da Caatinga.
O principal objetivo do trabalho foi ampliar o conhecimento sobre a distribuição geográfica de M. decoratus, espécie endêmica da bacia do São Francisco, popularmente conhecida como peixe-anual ou peixe-anual-decorado. Esse tipo de informação é essencial para subsidiar políticas públicas de conservação, especialmente em regiões que sofreram alterações ambientais intensas, como o submédio do rio, alterado por grandes empreendimentos hídricos, a exemplo do Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF) executado pelo Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional (MIDR).
Embora atualmente classificada como de “menor preocupação” na lista de espécies ameaçadas do ICMBio, a M. decoratus pertence à família Rivulidae, um grupo que representa cerca de 40% dos peixes de água doce considerados vulneráveis à extinção no Brasil.
“Esse registro é mais do que uma ampliação da área de ocorrência de uma espécie; ele reforça o quanto ainda há para descobrir sobre a ictiofauna da Caatinga. Nosso compromisso é continuar investigando, documentando e contribuindo para a conservação da fauna aquática do Semiárido”, destaca a coordenadora do Cemafauna, a professora doutora Patricia Nicola.