Funcionários de pet shop salvaram eletrônicos e deixaram animais para trás em enchente no RS, diz polícia; 38 corpos foram achados

Agentes de Polícia Civil da Delegacia do Meio Ambiente (Dema) de Porto Alegre, acompanhados de homens do Ibama e da Patrulha Ambiental da Brigada Militar encontraram um cenário de terror, nesta quinta-feira, na terceira perícia in loco feita na pet shop da Cobasi, no Shopping Praia de Belas, na capital gaúcha. A água no subsolo da loja baixou e revelou pelo menos 38 corpos de animais, entre aves, peixes e roedores, que foram retirados pelos policiais. Além disso, os investigadores conseguiram confirmar, também, a importante informação dada por testemunhas de que os funcionários haviam se preocupado em salvar equipamentos eletrônicos do estabelecimento, subindo-os para o mezanino — procedimento que não se repetiu em relação aos bichinhos.

 

— A água já havia baixado um pouco no subsolo, estava na altura do joelho, então policiais e peritos entraram na água e conseguiram retirar a carcaça de 38 animais. Mas não conseguimos fazer uma análise muito detalhada do local, porque ainda está muito complicado. Sem luz, ainda. O cheiro está absurdo, misturado com esgoto. Nós retiramos o que vimos — conta a delegada Samieh Saleh, da Dema.

 

Ela comenta também sobre a constatação de que, ao contrário dos animais, vários equipamentos eletrônicos da loja foram salvos e colocados no mezanino — parte superior da pet shop e onde, de acordo com os peritos, estava intacta, sem nenhum sinal de inundação.

 

— Nós aproveitamos a vistoria para verificarmos a fio a questão dos aparelhos eletrônicos, porque havia esse boato, de que eles teriam retirado os aparelhos, mas não salvaram os animais. Hoje, conseguimos confirmar isso. Os quatro CPUs dos caixas de pagamento que ficavam lá embaixo, além de várias máquinas de cartão, estavam todos no andar superior num carrinho de compras. Subiram com os materiais, mais deixaram os animais lá — acrescenta a delegada.

 

 

 

A Polícia Civil segue ouvindo o depoimento de funcionários e responsáveis pela loja. Além dessa, a delegada afirma que há também agora uma segunda loja da Cobasi investigada, na Zona Norte da cidade, onde uma situação parecida teria sido denunciada, também por uma ONG de proteção aos animais.

 

— Esse fato pressupõe que eles tiveram preocupação em subir ao mezanino com alguns aparelhos eletrônicos, mas não tiveram a mesma preocupação com os animais. Mas estamos investigando quem deu essa determinação.

 

O caso

 

O caso foi descoberto no último fim de semana, denunciado pela ONG Princípio Animal. Na visita que policiais, bombeiros e voluntários fizeram à loja no domingo, sequer era possível acessar o subsolo da loja, onde os animais teriam sido deixados para morrer.

 

— Nós queríamos entrar no local para sabermos se ainda havia algum animal vivo. A própria Cobasi emitiu a nota dizendo que estavam mortos, mas nós tínhamos esperança — contou, na última segunda-feira, o diretor da ONG, Fernando Schell Pereira, que esteve no local. — A loja fica no subsolo do shopping, mas tem um segundo andar, um mezanino. Os bombeiros não deixaram a gente descer à parte mais baixa, porque não tinha viabilidade, a água estava muito alta, mas foi constatado que nenhum animal sobreviveu. E o que nos revoltou ainda mais foi ver que a parte de cima estava intacta: local onde eles exibiam produtos e rações. Ou seja, os funcionários, o responsável, tiveram todo o tempo do mundo para colocar esses animais em segurança, mas eles permaneceram lá embaixo em suas gaiolas.

 

Procurada pela reportagem, a Cobasi disse em nota em que lamenta a morte dos animais na loja. Segundo eles, os pets que estavam na parte baixa da loja e acabaram morrendo eram aves e roedores.

 

“A loja Cobasi Praia de Belas teve de ser deixada de forma emergencial, seguindo as orientações das autoridades locais. Foi garantido que os animais estivessem seguros e com o necessário para a sobrevivência até o retorno dos colaboradores, o que considerávamos ser breve. Mas a tragédia foi sem precedentes e, apesar das tentativas constantes da empresa nos últimos dias, não foi possível o acesso seguro à loja devido ao nível da água. É com pesar que a Cobasi comunica a perda das vidas dos animais que estavam no local. A empresa seguirá atuando com as ONGs de proteção animal, da região e de todo o país, para salvar as vidas que pudermos, enquanto lamentamos aquelas que não pudemos salvar”, diz a empresa.

 

“Estamos sensibilizados com o que aconteceu na Loja Praia de Belas. A Cobasi está apurando as denúncias, e sentimos muito pelas perdas dos roedores e aves da nossa loja. E é com essa sensibilidade que a Cobasi segue ajudando o estado do RS sem medir esforços”, acrescenta.

 

A delegada Samieh Saleh explica ainda que, dependendo de quais animais morreram no local, a pena pode variar.

 

— Houve uma alteração recente que diz que a pena do crime de maus tratos, que é de 3 meses a 1 ano, passa a ser de 2 a 5 anos de reclusão, permitindo inclusive flagrante, quando cometido contra cão e gato. No caso dessa loja, a princípio, eram pássaros, roedores e peixes, então, tende a se enquadrar no primeiro caso. Mas nós vamos investigar.

 

 

Fonte: O Globo
Fotos: Reprodução / Polícia Civil RS

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